sexta-feira, 8 de junho de 2007

Exército preocupado com regresso de Cabul MANUEL CARLOS FREIRE Muitos comandos acham que não há 'stress' de guerra O Exército está a encarar com preocupação o regresso a Portugal dos militares actualmente estacionados no Afeganistão, onde participam, pela primeira vez desde a Guerra Colonial, em operações ofensivas e são alvo do fogo inimigo."Há uma preocupação acrescida" com a reintegração desses militares, pelo que "estamos a equacionar algo mais substantivo" para os acompanhar em Portugal, disse ao DN o director do Centro de Psicologia Aplicada do Exército (CPAE), tenente-coronel Norberto Carrasqueira. Outras fontes, contudo, garantiram que "a preocupação é grande" dentro do ramo, avançando mesmo (com base nos registos de outros países ou do historial dos ex--combatentes lusos) um exemplo do que poderá ocorrer: "Não queremos que, ao chegar a Portugal, [os comandos] estejam num café a dizer que mataram não sei quantos talibãs"."Dez minutos em combate [como sucedeu a 25 de Maio, em que o primeiro-sargento Barry ficou ferido] é uma eternidade. Mas é mais fácil dispararem os comportamentos agressivos do que desenvolverem-se os chamados distúrbios pós-traumáticos de stress de guerra" (DPTS), salientou outra das fontes. Daí resulta, em especial no primeiro ano após o regresso a Portugal, "um sentimento de impunidade - são miúdos de 19, 20, 21 anos que andaram aos tiros e não morreram - e de tal autoconfiança e desinibição que os comportamentos de risco" são normais, em especial nos períodos de férias e ao fim-de-semana, explicou este especialista.Daí que, desde que as Forças Armadas começaram a participar em missões internacionais (Bósnia, 1996), registaram-se "mais de 20 mortos" entre praças no primeiro ano após o regresso a casa e fora de serviço. A par disso, "cenas de pancadaria e homicídios" são outras situações de risco potencial em que esses jovens podem ver-se envolvidos, revelou uma das fontes castrenses. O desconhecimento em lidar com os potenciais efeitos psicológicos de operações de guerra, com o actual grau de stress e violência associados, é uma das dificuldades com que o CPAE está confrontado. "Não tenho isso estudado", reconheceu Norberto Carrasqueira. A explicação, referiu, está no facto de as tropas lusas não terem estado envolvidas naquele tipo de acções desde 1996 - embora seja uma situação corrente em forças armadas de outros países da NATO."Não tem sido possível fazer estudos nessa área", referiu o major Nuno Sampaio, que esteve um mês com as tropas no Afeganistão e regressou a Lisboa no último fim-de-semana. Só agora é que a tropa portuguesa está a participar em acções ofensivas, pelo que "o que sabemos é com base noutros estudos", adiantou, relativizando essa informação. Aspectos culturais e "a forma como as famílias dos militares americanos [há anos envolvidos em acções de combate] reagem à morte ou aos ferimentos" dos familiares "serão diferentes" do que sucede com as famílias lusas, observou.A situação actual "está a levantar alguns desafios", repetiu o director do CPAE, mas, "por enquanto, só tenho a preocupação" resultante do envolvimento das tropas em "acções continuadas de fogo e stress" no chamado santuário dos talibãs, em Kandahar.Fontes do Corpo de Tropas Comandos observaram ao DN que "o stress de guerra não é uma frase inventada. É uma realidade". Um dos oficiais assinalou, contudo, não saber "se uma experiência tão curta [de seis meses] pode provocar algum problema" daquela natureza. No caso dos comandos, há outro aspecto: "há muitos" dos que estiveram na Guerra Colonial "que dizem que um comando não tem" DPTS, sublinharam as fontes.O major Nuno Sampaio garantiu ao DN que não há razões para alarme. "A maioria dos militares já lá esteve antes" e mesmo os que estavam presentes na explosão que vitimou o primeiro-sargento Roma Pereira (Novembro de 2005) não apresentavam qualquer mudança de comportamento, disse."A missão é mais perigosa e desempenhada numa zona crítica. Há uma mudança, pois estavam habituados a um certo tipo de missão [maioritariamente patrulhas] e agora estão numa onde o contacto com os combates é maior, o stress é mais elevado. Mas, do que me apercebi, estavam todos em condições", assegurou o psicólogo - mesmo o primeiro-sargento Barry (ferido pelo estilhaço da explosão de um engenho disparado por um lança-granadas), com quem esteve um dia depois do acidente.Esta apreciação de Nuno Sampaio, que acompanhou os comandos nalgumas das operações, também assenta nas avaliações que fez ao contingente antes da partida para Cabul, e que vai ser repetida no seu regresso a casa, de acordo com o modelo de avaliação e acompanhamento

http://dn.sapo.pt/2007/06/08/nacional/exercito_preocupado_regresso_cabul.html

3 comentários:

Anónimo disse...

Como psicóloga sei bem as razões e os fundamentos desta preocupação...
Esperemos que a adaptação à vida civil seja o mais positiva possível, sem grandes estragos :D

Força pra todos os nossos comandos e comandininas****

Anónimo disse...

tenho real conhecimento dos traumas que militares em tais situaçoes podem vir a ter.. a adaptaçao à "vida normal". é preocupante tudo o k pode surgir apos experiencias como missoes..

mas tudo irá correr bem e ca estaremos pra ajudar sempre..

beijinhos

Anónimo disse...

Olá Carina... Recebe os meus parab´mens pela vossa preocupação.Poderei falar-vos sobre isto... só que é uma conversa séria e algo prolongada!

Vou colocar no PP, uma vez que vocês já leram, serve de aviso a outras/os!

Gostei!

beijinho grande

MR